Sam Nina
2 min readApr 7, 2022

três poemas na revista sucuru n. 13, v. 1

de nome saudade

era fim de tarde,
em breve a encontraria na praça,
aquela que carregava
o mesmo nome do sentimento partilhado por nós

ela andava rápido em minha direção
mas parecia em câmera lenta
ou a praça ficara maior?
não sei ao certo, só sei que a queria

não aguentei esperar
cansei de esperar sentada
não fazia sentido estar em uma mesa de bar sem ela
era uma coisa nossa, beber, comer, conversar
rir
gargalhar

não aguentei mais
levantei
andei
atravessei
corri
eu a queria, nada mais!

quem sou eu?

já não sei mais…
quer dizer…
antes eu sabia, então te conheci…
você me transformou, me fez melhor, foi incrível…
pude ser uma pessoa melhor…
diferente…
foi tão bom…
mas acabou…
não sei agora o que sou…
quem sou…
é tudo tão confuso…
está tudo tão errado…
nada mais faz sentido…
não ter você aqui faz isso…
ou não faz, já que não há nada a ser feito…
você…
o que você fez comigo?
traga-me de volta…
sinto falta de quem eu fui…

a dor

eu sou quebrada
não me quebraram
eu não estava bem e de repente quebrei
eu sempre fui assim
nada me conserta
nem eu me conserto
não consigo
a única coisa que consigo é sentir
sou tomada por esse sentimento
tem dias que ele não me domina
mas está sempre lá
esperando a menor oportunidade
pra aumentar a ferida
daquelas que nunca cicatrizam
e quando eu penso que estou bem
quando me iludo de que está tudo bem
de que tudo vai ficar bem
ela vem de novo
a dor
dilacerante
vem cortando
destruindo
derrubando
massacrando
e quando percebo
já é tarde demais
estou jogada no chão
dolorida
exaurida
um temporal desagua através de meus olhos
estou
quase desmaiada
de tanto sentir
dor…

Sam Nina

lésbica. feminista. poeta. designer. curiosa. manauara. questionadora. leva para a sua escrita reflexões, experiências, sensações e vivências.